De Bangu 2, em meio a 700 detentos, sob vigilância e cercado
por muros, um ladrão incomum continua a praticar crimes, diz a Polícia Federal.
Laéssio Rodrigues de Oliveira, 39, tem em sua ficha roubos e
furtos de obras raras em ao menos 14 instituições como bibliotecas e museus de
São Paulo, Rio, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco.
Condenado a 12 anos, o ex-estudante de biblioteconomia está
no presídio Alfredo Tranjan, em Bangu, na zona oeste do Rio, desde 2007.
No início, planejava e praticava as ações sozinho. Mas,
desde 2005, ainda em liberdade, criou uma organização que, segundo a PF,
continua a comandar. Uma vez preso, ele combinou os crimes pelo telefone
celular, mas abandonou a prática passando a usar cartas ou passar ordens por
meio das visitas, diz a polícia.
As obras são, na maior parte, vendidas para colecionadores
de Brasil, Argentina e Uruguai. Processos analisados na Justiça Federal mostram
que, por crime, Oliveira lucra cerca de R$ 500 mil.
"Considero-o o maior assaltante de obras raras do país.
Preso, conseguiu convencer muito bandido de que é melhor furtar uma obra rara
do que vender cocaína", diz o delegado Fábio Scliar, da Polícia Federal no
Rio.
O primeiro furto ocorreu em 1998, na Biblioteca Nacional, no
centro: 14 revistas e periódicos, entre elas a "Al Bazar Volante", de
música. Os furtos, de obras avaliadas em R$ 1,5 milhão, duraram um ano. Até
hoje, o receptador não foi encontrado.
Oliveira só admite ter praticado esses furtos. A polícia
acredita que há muito mais.
Em 2004, iniciou estágio na Biblioteca Mário de Andrade, a
maior biblioteca pública de São Paulo. Chegou a ser preso por furto após a
denúncia de um livreiro de uma feira do Bexiga (centro de SP).
Em sua casa, foram achados 15 livros, 76 fotos e documentos
atribuídos a Dom Pedro 2º. Apesar de ter sido detido em flagrante, ficou preso
pouco mais de seis meses.
Em 2005, voltou a frequentar a faculdade. Segundo a polícia,
temendo a vigilância, buscou uma parceira: Iwaloo Sakamoto. Ela coopta mulheres
para o grupo, afirma o Ministério Público Federal.
Pouco antes do feriado de Corpus Christi, em 2006, Oliveira
teria realizado o último levantamento pessoalmente: fotos de Augusto Malta,
datadas do século 19, do Arquivo Geral da Cidade, no Rio.
Oliveira teve a pena reduzida a cinco anos, por bom
comportamento e trabalho no cárcere. Seu advogado não retornou os contatos da
Folha. Iwaloo vive no interior paulista e não foi encontrada.
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