sexta-feira, 23 de novembro de 2012

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OBSERVAÇÃO VERDADEIRA MÁS... por que só agora?


A iminência de prisão para empresários, banqueiros e dirigentes do PT condenados no processo do mensalão despertou a consciência dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para a situação do sistema prisional brasileiro durante a sessão desta quarta-feira. O debate teórico foi provocado pelas declarações do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, de que "preferia morrer a ficar preso no sistema penitenciário brasileiro por tantos anos".
Geralmente discreto durante as sessões do mensalão, o ministro Dias Toffoli inaugurou a discussão protestando contra as penas estabelecidas pelo tribunal contra os réus condenados, entre eles o ex-ministro José Dirceu, de quem foi assessor durante o governo Lula. Para Dias Toffoli, as penas definidas no processo do mensalão "não tem parâmetros contemporâneos no Judiciário brasileiro".
Em outras palavras, o ministro propôs que condenados ricos e influentes não merecem ir para a cadeia porque não teriam praticado qualquer violência física contra a população. Na opinião de Dias Toffoli, o pagamento de multas seria a solução.
"O pedagógico não é colocar as pessoas na cadeia. O pedagógico é recuperar os valores desviados. O intuito do esquema criminoso (o mensalão) era o dinheiro, não violência. Era o vil metal. Que se pague, então, com o vil metal", disse o ministro, acrescentando que o Judiciário aplica muito pouco as chamadas penas alternativas.
Os ministros Celso de Mello, Gilmar Mendes e Luiz Fux aproveitaram também para criticar o sistema penitenciário, mas sem se ater às críticas às penas estabelecidas pela Corte.
"Temos um inferno nos presídios. Temos 70 mil presos, pelo menos, em delegacias. São presos ilegalmente. Aí (dizem que) não há recursos para fazer presídios. Tínhamos casos de presos no Pará que estavam passando fome. É preciso, realmente, que o governo participe desse debate sobre segurança porque tem os recursos e tem a missão de coordenar. Isso (a construção de presídios) nunca foi prioridade e por isso temos esse estado de caos", disse Gilmar Mendes, lembrando que há 250 mil presos provisórios no País.
O ministro fez um mea-culpa sobre a responsabilidade do Judiciário no problema carcerário, mas aproveitou para criticar Cardozo. "Eu também louvo as palavras do ministro da Justiça de preocupação com as penas de prisão. Só lamento que tenha falado só agora. Esse é um problema já conhecido e muito sério. Nós temos responsabilidade nisso. A Justiça não consegue julgar em ritmo adequado", afirmou Gilmar Mendes.
O ministro Celso de Mello, decano do Supremo, chamou o sistema prisional brasileiro de "ficção científica" e disse que nas prisões há penas que não existem no Código Penal.
"O que temos visto na triste realidade penitenciária brasileira é um depósito de presos, pessoas abandonadas à própria sorte, por irresponsabilidade do poder público. (a frase mais verdadeira e inteligente) grifo nosso. Por isso, acho importante que o ministro da Justiça tenha feito de maneira muito cândida e franca no dia de ontem. A pessoa sentenciada acaba sofrendo penas sequer previstas no Código e o Estado mantém-se absolutamente indiferente e desinteressado em relação ao cumprimento da Lei de Execução Penal", afirmou.
Cardozo
As declarações de José Eduardo Cardozo foram feitas ontem, durante encontro com empresários em São Paulo. Questionado sobre a pena de morte, o ministro respondeu que "preferia morrer" a ficar preso no sistema penitenciário brasileiro. "Do fundo do meu coração, se fosse para cumprir muitos anos em alguma prisão nossa, eu preferia morrer", afirmou.
Cardozo afirmou também que os presídios no Brasil "são medievais" e "escolas do crime". "Quem entra em um presídio como pequeno delinquente muitas vezes sai como membro de uma organização criminosa para praticar grandes crimes", comentou.


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